terça-feira, 25 de janeiro de 2011

"Acredito no espiritismo, mas a pessoa não precisa aparecer para mim", diz Manuela do Monte em entrevista



Gaúcha de Santa Maria, há sete anos no Rio, Manuela do Monte, a Luciana de “Escrito nas Estrelas”, já é praticamente uma carioca. Moradora do Humaitá e fã da torcida do Flamengo, a gremista frequenta o Maracanã, escolhe a Lapa para sair à noite, é assídua da quadra da escola de samba Renascer, em Jacarepaguá, e faz grande parte de suas atividades montada em sua bicicleta, como ir à faculdade de teatro, na Lagoa. Quando o assunto é o sotaque, a atriz faz graça: “Vario conforme a pessoa com quem estou conversando. Falo 'gauchês' e 'carioquês'”, brinca.

Com 25 anos, a atriz diz que amadureceu na marra, já que, aos 18, de uma hora para outra, mudou-se para o Rio por conta do trabalho, sua grande paixão. Hoje vive o cotidiano da cidade, sem traumas, e nem pensa em voltar para sua cidade natal, onde volta e meia aterrissa para matar as saudades da família e dos amigos.

Dedicada aos seus personagens, Manuela afirma que está no caminho para crescer espiritualmente, assunto que entrou na sua vida com a novela de Elizabeth Jhin. Depois de ler e assistir aos capítulos da trama das 18h, a atriz pegou um livro emprestado da mãe para compreender melhor as nuances de cada religião. Mas uma coisa é certa: o espiritismo ainda é tabu. “Se você me disser: ‘Manu, eu vi fulano, estava aqui’, vou acreditar, mas não quero ver. Não precisa aparecer pra mim não”, conta, rindo.

UOL - Como você vê a Luciana de “Escrito nas Estrelas”?

Manuela do Monte - Ela é a romântica ali do Antro [Antro de Botafogo, como é chamado o apartamento onde vive com a prima Mariana – vivida por Carol Castro – e a amiga Suely - papel de Giovanna Ewbank]. E também muito batalhadora. Ela viu na clínica oportunidade de crescer, buscou o curso de enfermagem. Vejo ambição, vontade de mudar de vida.

UOL - Há pontos de identificação com o personagem?

Manuela do Monte - A Luciana é muito apegada à mãe, em todas as cenas estamos muito grudadinhas, e a Nica Bonfim, a atriz que faz a Magali, minha mãe, inspira carinho, aquele do abraço e do toque, e ela carrega para a cena, o que é muito bom para a composição da personagem. Vejo e me identifico com esse apego à família. Ela tem também um amor especial pelo irmão de criação que é o Alex (Izak Dahora). Eu também tenho um irmão de criação, uma coincidência boa. Além disso, tem uma preocupação com a irmã mais velha, o que mostra que ela é madura. O que também me traz uma identificação, uma maturidade que veio na marra, porque eu vim para o Rio com 18 anos e desde então eu resolvo minha vida.

UOL - Você acha que vai acontecer alguma grande mudança com a Luciana ao longo da novela?

Manuela do Monte - Acho que sim. Ela vai conseguir terminar o curso de enfermagem, mudar de posto dentro da clínica e vai conquistar o Breno (Paulo Vilela). Ela não é afobada, é estratégica. É uma sensação minha que vem do que acontece em cena e do texto. As duas coisas juntas me dão as sensações e vou viajando. Personagem é assim, vamos vendo as possibilidades daquela pessoa.

UOL - Você já disse que não tem religião, o que é curioso para uma pessoa que veio do interior, onde as crenças são mais fortes...

Manuela do Monte - Quando eu era pequena, frequentava a missa com a Graciela, minha vizinha, que é como uma irmã. Já meus pais dizem que são ateus. Não tenho religião, mas não sou uma pessoa descrente, tenho fé, acho que devo estar conectada com o universo. Lendo e assistindo à novela vejo coisas tão lindas que acontecem e me pergunto ‘por que não?’. Tenho vontade de ir mais fundo, dou uma estudada.

UOL - Você tem medo de alguma coisa?

Manuela do Monte - Não... Tem a personagem da Antonia (Suzana Faini), ela vê o Daniel (Jayme Matarazzo), menino que morreu. Se você me disser ‘Manu, eu vi fulano, tava aqui’, eu vou acreditar, mas não quero ver. Não precisa aparecer pra mim não [risos]. Isso me daria um pânico. Por outro lado, tenho um avô que já morreu, se ele aparecesse pra mim acho que eu iria amar.

Manuela do Monte em entrevista ao UOL, no Rio (2/6/10)

UOL - Você já fez papéis distintos: históricos, em remake e atuais. Há para você diferenças na composição do personagem?

Manuela do Monte - Nenhuma novela é igual à outra. A direção e o elenco são diferentes. Na novela de época é preciso compor algo muito mais afastado de você. Cada uma tem sua dificuldade. De época fiz “A Casa das Sete Mulheres” e “JK”. “A Casa” foi a minha primeira, não tenho como dizer se foi mais fácil ou difícil porque hoje já tenho toda uma caminhada, então cada uma tem sua peculiaridade. Por isso o trabalho do ator é bom, a gente nunca faz a mesma coisa.

UOL - E a novela do Manoel Carlos, que tem uma vida mais próxima da sua agora...

Manuela do Monte - Para desempenhar de uma maneira bacana, tem que buscar a simplicidade. Fazer a cena com despojamento tem a dificuldade do simples, na composição, não é superdramático, é o que acontece ali na esquina, sem ter o lampejo de falar aquilo naquela hora. Poderia ser a gente aqui agora, mas não é.

UOL - Até agora qual sua personagem favorita?

Manuela do Monte - A Joana, de “A Casa das Sete Mulheres”, e depois a Tonha, de “Paraíso”. Cheguei numa novela em andamento, com todos já entrosados, e era como se eu já estivesse ali desde o início. Eu entendi a personagem de uma maneira muito fácil, gostosa. Gostei do clima nas gravações, da receptividade. E quando eu estava gravando eu era a Tonha, não pensava.

UOL - Na TV, tem algum autor com quem você gostaria de trabalhar?

Manuela do Monte - Todos. Silvio de Abreu, por exemplo, ainda não fiz. Também tenho vontade de repetir Maria Adelaide, Walther Negrão e o Maneco. Gostaria muito de ter essa oportunidade de novo.

UOL - Tem alguma atriz que você tenha como modelo?

Manuela do Monte - A Lília Cabral. Queria ser a metade do que ela é. Agora, estou mais atenta ao trabalho da Zezé Polessa e gosto da maneira que ela veste o personagem. Débora Falabella é jovem, muito talentosa, e eu acredito muito no trabalho dela. Vi pela primeira vez num filme e achei-a muito interessante.

UOL - Há quanto tempo está no Rio? Já perdeu todo o sotaque?

Manuela do Monte - Cheguei há sete anos, parece que foi ontem. Quando falo no sotaque, minha atenção vai para esse lance. Na verdade, minha atenção vai para o que escuto. Passei o fim de semana com uma amiga gaúcha e outra carioca, falava gauchês e carioquês na mesma conversa.

UOL - Como escolheu o lugar para viver no Rio?

Manuela do Monte - Já morei em vários lugares no Rio, entre eles a Barra, mas prefiro a Zona Sul, agora moro no Humaitá. Me identifico mais com esta região, gosto de ir para a faculdade a pé, de ir à padaria a pé, gosto de andar. Na Barra, você fica dependente de carro. Os bons teatros também estão aqui.

Manuela do Monte durante entrevista ao UOL, no Rio (2/6/10)

UOL - Como é o seu dia a dia quando não está gravando?

Manuela do Monte - Gosto muito de receber os amigos em casa, me sinto viva. Pegar a bicicleta no domingo e dar uma pedalada, fazer a orla inteira, ir até o Leblon, cair na Lagoa, chegar ao Humaitá. Em 20 minutos faço tudo. No fim de semana, pedalando, vejo um amigo que tá na praia lá, outro ali. Outro dia, peguei uma amiga que estava em Copacabana, queria levá-la no Forte de Copacabana, um lugar que eu gosto muito. Estava fechado, continuamos andando e, de repente, estávamos em Ipanema.

UOL - Como é a rotina de fazer faculdade e gravar ao mesmo tempo?

Manuela do Monte - É bem puxado, mas é um cansaço que faz bem. É gostoso. Teve um período deste semestre que fiz até de tarde e à noite, por medo de ter que perder muito durante a gravação da novela. Até estou devendo muitas matérias teóricas que, por conta do trabalho, não consegui fazer. Mas a prática é muito presente, sobretudo na minha faculdade, o que também requer muito estudo. Já tive épocas de quase morar lá.

UOL - Você chegou a deprimir porque engordou. Como você lida hoje?

Manuela do Monte - Faz tanto tempo que engordei, foi uma fase de adaptação. Saí de casa com

18 anos e dois dias. Do dia para a noite. Sofri de ansiedade, agonia, tinha uma pressão, a responsabilidade, foi vida profissional, vida independente, tudo junto ao mesmo tempo. Longe da família, muita coisa mudou em pouquíssimo tempo e administrar tudo isso foi trabalhoso. Não foi sofrido, foi trabalhoso e bom. Morava numa cidade do interior com 150 mil habitantes, 200 mil, e vim para o Rio de Janeiro. Além disso, acredito que tenha passado pela mudança do corpo de menina para o de mulher.

UOL - Qual é seu estilo hoje em dia?

Manuela do Monte - Sou prática. Na novela a gente chega uma hora antes, faz uma maquiagem maravilhosa, tem profissionais ótimos à nossa disposição, faz uma escova no cabelo. Na minha vida nunca vou fazer isso. Esse corte ficou bom porque acordo, faço assim (mexe nos cabelos) e ponto. Para vestir, meu estilo varia. Acho que acontece com todo mundo. Tem dias que acordo superinspirada, quero uma maquiagem, escolher uma roupa super. Outro dia, coloco um jeans, uma Hering e ponto. Mas o conforto é minha prioridade.

UOL - Cuida da beleza?

Manuela do Monte - Uso um bom xampu, um creme hidratante. Na pele, o único cuidado que cumpro sempre é o filtro solar, tento não ficar muito tempo com a maquiagem e jamais durmo com ela. Também uso creme pra prevenir olheiras, coisas simples.

UOL - Qual seu programa preferido?

Manuela do Monte - Gosto muito de sair para dançar. Adoro assistir à Orquestra Imperial. Não saio muito. Adoro a Lapa, semana passada fui ao Rio Scenarium. Já fui ao Carioca da Gema, ao Estrela da Lapa e ao Teatro Odisseia. O Circo Voador é sempre uma boa pedida. Indo para a Lapa, encontro um lugar maneiro pra ir. A Casa Rosa, em Laranjeiras, é um lugar descontraído. E também gosto de forró.

UOL - Costuma sair pra jantar?

Manuela do Monte - Adoro também, basta ter uma boa companhia.

UOL - Você tem uma boa companhia?

Manuela do Monte - Sempre. Vou almoçar com as amigas, falar sobre a vida, trocar experiências.

UOL - Só com as amigas? Não tem um namorado?

Manuela do Monte - Não, não.

UOL - Você pretende ficar de vez no Rio de Janeiro?

Manuela do Monte - Para sempre é muito tempo, nem vamos viver pra sempre. Não faço planos para sair daqui, faço sim para viajar. Quero conhecer o mundo. Se você me perguntar qual parte do mundo quero conhecer primeiro, nem sei. Quero tudo. Sou gulosa, talvez comece pelo Brasil. De fora, até agora só conheço Nova York. E aqui conheci lugares sempre trabalhando, rápido, sem poder desfrutar.

UOL - Nem velhinha você voltaria para o Sul?

Manuela do Monte - Nunca pensei nisso. Me imagino velhinha trabalhando e minha profissão me possibilita isso. O único plano que eu faço é trabalhar sempre.

UOL - Gosta de futebol? Vai torcer na Copa?

Manuela do Monte - Mais a função do que assistir ao jogo. Sou gremista e implicava com meu pai que é Inter, temos essa relação através do futebol de um ficar incomodando o outro. Nunca tinha assistido a um jogo inteiro na televisão. Um dia fui ao Maracanã e meu coração vinha na boca. Era o Flamengo, não lembro nem contra quem. O futebol consegue com as pessoas o que o teatro quer, aquela identificação que atravessa a pessoa que a leva para dentro do campo. Não gosto de quem acredita que os problemas acabaram porque seu time ganhou. É irresponsável. Enquanto é saudável, é bom. Agora, vou sempre ao Maracanã.


Eu sou gremista. O que me encantou no Flamengo foi a torcida

UOL - De gremista você virou flamenguista?

Manuela do Monte - Então, eu sou gremista [nesse momento fala com um sotaque carregado do Sul]. O que me encantou com o Flamengo foi a torcida. Vou falar como carioca: ‘eu fecho com a torcida do Flamengo’. É uma torcida fiel.

UOL - E a Copa?

Manuela do Monte - Vou estar trabalhando. Estamos pensando numa televisão bacana para colocar no estúdio e acompanhar os jogos. Mas tenho uma preguiça de saber que o país para porque é Copa, Carnaval. Não é por aí. Não dá para esquecer da vida e dos objetivos.

UOL - Você é uma "workaholic" então?

Manuela do Monte - Não é pra tanto. Tenho vontade de ver as coisas andarem, tenho até ansiedade, mas é uma parte que tento deixar de escanteio, quero ver as coisas serenas e fluidas.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

O começo de tudo...



A gaúcha de Santa Maria, Manuela do Monte, 24 anos, que despontou como atriz na minissérie A Casa das Sete Mulheres (2003), na Rede Globo, relembrou, com a estreia do filme Manhã Transfigurada, como tudo começou. Conhecida por papéis nas novelas Malhação, Começar de Novo e Páginas da Vida e na minissérie JK, Manuela estreou na carreira em 2002, quando ainda fazia aulas de iniciação teatral no interior do Rio Grande do Sul, aos 17 anos. O papel era o de Camila, protagonista de Manhã Transfigurada, só lançado anos depois.

Como você foi parar no filme?

Estava estudando para ser atriz e resolvi fazer o teste para a protagonista do filme, já que toda a equipe era da minha cidade. Foi o meu primeiro filme e o primeiro trabalho da minha vida. Ficamos dois anos em pré-produção e as gravações foram de janeiro a setembro, mas com vários intervalos. Por coincidência, durante as filmagens, Jayme Monjardim estava procurando locações para A Casa das Sete Mulheres na cidade. Ele me contou que viu uma foto minha no jornal e quis me conhecer.

Como você lidou com as cenas de nudez?

Eu tive respaldo, porque achei que as cenas estavam dentro do contexto do filme. Isso me deixou tranquila. Lógico que não foi fácil. Eu precisei de um tempo para me desprender. Mas fiquei muito à vontade com o Rafael (Sieg, seu par no longa), que virou um grande parceiro.

Fonte: CONTIGO!

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